sábado, 28 de janeiro de 2012









Podias ter-me dito que ías sair da minha vida. A paixão é mesmo
 isto, nunca sabemos quando acaba ou se transforma em amor, e eu
 sabia que a tua paixão não iria resistir á erosão do tempo, ao frio
 dos dias, ao vazio da cama, ao silêncio da distância. Há um tempo
 para acreditar, um tempo para viver e um tempo para desistir, e nós
 tivemos muita sorte porque vivemos todos esses tempos no modo
 cedo. Podias ter-me dito que querias conjugar o verbo desistir.
 Demorei muito tempo a aceitar que, ás vezes, desistir é o mesmo
 que vencer, sem travar batalhas. Antigamente pensava que não, que
 quem desiste perde sempre, que a subtracção é a arma mais
 cobarde dos amantes, e o silêncio a forma mais injusta de deixar
 morrer os sonhos. Mas a vida ensinou-me o contrário. Hoje sei que
 desistir é apenas um caminho possível, ás vezes o único que os
 homens conhecem. Contigo aprendi que o amor é uma força
 misteriosa e divina. Sei que também aprendeste muito comigo, mais
 do que imaginas e do que agora consegues alcançar. Só o tempo te
 vai dar tudo o que de mim guardaste, esse tempo que é uma caixa
 que se abre ao contrário: de um lado estás tu, e do outro estou eu, a
 ver-te sem te poder tocar, a abraçar-te todas as noites antes de
 adormeceres e a cada manhã ao acordares. Não sei quando te
 voltarei a ver ou a ter notícias tuas, mas sabes uma coisa? Já não me
 importo, porque guardei-te no meu coração antes de partires. Numa
 noite perfeita entre tantas outras, liguei o meu coração ao teu com
 um fio invisível e troquei uma parte da tua alma com a minha,
 enquanto dormias.”

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